segunda-feira, 3 de março de 2014

Depois da Chuva



Meu pequeno relato sobre um terrível alagamento que tivemos aqui no bairro em 2010. Minha casa não foi atingida, pois eu moro na parte alta, mas muitas pessoas perderam tudo, e alguns a sua vida. Durante uma semana fiquei de voluntária em um abrigo e tudo que eu pude presenciar durante esse período esta relatado neste texto.


Sim eu estava lá, e pude ver de perto tudo aquilo que antes só via pela TV.
Tudo o que se passa nos filmes é comédia diante dessa realidade.
Toda aquela luta diária para construir um sonho foi perdida em uma única madrugada, e todas aquelas vidas se foram como um sopro.
Toda aquela angustiante luta pela vida, pela sobrevivência.
Técnicas ( talvez ), jamais pensadas, atitudes ( talvez ), jamais tomadas e a certeza ( por alguns instantes ) de que todos iriam morrer.
Botes improvisados, trabalho forçado, braçadas, cansaço.
Madrugada a fio, frio.
Abrigo no telhado, laje, terraço, e até em galhos de árvores.
- Estamos com fome, e a chuva não passa.
A água subindo, o desespero vindo.
- Não tem para onde correr, não tem saída. Talvez o morro seja a solução.
A energia cortada, não dava para enxergar. 
Estavam perdidos na mata, o jeito foi gritar.
E gritaram com tanto desespero e tão alto que acho que até Deus pode ouvir. E foram resgatados.
Mas esse era só um caso.
Ainda haviam pessoas na água, pessoas desesperadas. Corpos de crianças, animais.
Pessoas perdidas, desaparecidas, em busca de paz.
A cada resgate ficava no ar um sentimento de alívio, tristeza, frustração.
Crianças e idosos primeiro. 
- Mas e os adultos quem iria salvar? 
Por horas era cada um por si, perdidos naquele lugar.
E todos fugindo dali, tremendo de frio, roxos, iriam congelar.
Em direção aos abrigos, não por opção, deixando para trás suas vidas, pois não tinham mais saída, não dava para voltar.
- Perdermos tudo, o jeito agora é ficar onde tem teto, um cobertor quentinho, comida, agasalho e esperar a água abaixar.
- Pois amanhã será um novo dia, e poderemos recomeçar.


- Tudo passa, tudo passará
E nossa estória não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar
E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos
O mundo começa agora
Apenas começamos"
( Trecho Da música Metal Contra as Nuvens Legião Urbana )




No próximo mês  completam quatro anos que nossas vidas foram marcadas por essa enchente.


2 comentários:

  1. Eu sei o que isso perde tudo pois aconteceu comigo , triste d+++ o pior que fica marcado para sempre.

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    Respostas
    1. É verdade Rosangela, e ficamos com aquela sensação de que pode acontecer outra vez.

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